ÊUTICO: um jovem de sorte.

ÊUTICO:  um jovem de sorte.

Num domingo inesquecível em Trôade.

Trôade era uma antiga cidade portuária no litoral oeste da antiga Mísia. Em Trôade, o apóstolo das Missões aos gentios, Paulo, em sua segunda viagem missionária, teve uma extraordinária visão de noite, na qual um macedônio lhe aparecera clamando “Passa à Macedônia e ajuda-nos!” At 16.7-9.  

Em Trôade, Deus presenteou a Paulo com uma visão determinante e decisória. Agora, passados cerca de sete anos, nela outra vez Deus lhe marca com um acontecimento num domingo de Santa Ceia, com o incidente de uma morte seguida de ressurreição ocorrido com um jovem em pleno curso da celebração. At 20.9-13

Trôade foi testemunha ocular e auricular de reuniões de ensino e de poderosas pregações bíblicas e de milagres no nome do Senhor Jesus. Naqueles dias, os fatos e a pregação cristã faziam parte corrente do leque de assuntos comentados nos logradouros e nas cercanias de Trôade. Afinal, a bênção e as boas novas do Evangelho satisfaziam e contentavam corações.

Atualmente, seu nome é Eski-Stamboul, na Turquia, e o que dela sabemos não tem sido tão favorável como esperamos e desejamos que fôsse. Amamos e respeitamos todos os povos e nações da Terra, inclusive com certa distinção, respeito e amizade para com a nação turca, visto que seu território no passado foi um dos cenários da igreja primitiva e um dos mais frutíferos berços de apoio missionário contemplados pela misericórdia e pelo favor de Deus.

Mas algumas coisas em Missões, nos chamam e atraem a nossa atenção. Nas viagens missionárias, cada coisa revela a inconfundível presença direta de Deus. E em cada uma é encontrado pelo menos um acontecimento extraordinário, visto que o Deus que envia os Seus missionários produz lições espetaculares e edificantes.

Conforme o que vemos no texto em apreço, percebemos um domingo especial e inesquecível em Trôade. Um domingo que não fora somente de um habitual culto de Santa Ceia, com um rotineiro partir do pão semanal. Aquele domingo, véspera da viagem de Paulo para Assos, foi um domingo que ficou testemunhalmente marcado na vida de todos aqueles que na ocasião estiveram.

1 - Foi um domingo inesquecível, porque já passados sete dias, aquele era o dia de encerramento da visita missionária com recomendações, encorajamento de ânimo e conversas de despedidas com aqueles irmãos da igreja local. O cuidado de Paulo em confirmar e animar a fé dos irmãos fica revelado na prolongada palavra pastoral antes do partir do pão e depois nas conversas até tarde com os irmãos daquela igreja local.

2 - Foi um domingo inesquecível, porque nessa passagem rápida dos missionários em Trôade, um fato inconteste ficou registrado. Um jovem chamado Êutico estava sentado no parapeito de uma janela presenciando o culto, e vencido pelo sono despencou da altura do terceiro andar e caiu no chão, vindo a ser recolhido morto. At 20.9

3 - Foi um domingo inesquecível, porque olhando para o incidente, nada indicou uma sorte fatal. Por pouco aquilo teria sido um acidente, se Êutico não fosse ressuscitado nos braços de Paulo. Aquele definitivamente não foi um domingo de sorte, todavia fora um domingo de um inesquecível e extraordinário milagre. Apesar de o seu nome significar “sorte”, Êutico não foi ressuscitado por coincidência de sorte, mas por operação da mão de Deus sobre a má sorte do jovem.

4 - Foi um domingo inesquecível, porque os fatos sobre Êutico, tendo acontecidos durante a pregação e antes do partir do pão, colheram a atenção de todos os presentes. Até o começo daquele culto tudo estava como antes, e a única novidade local era a presença temporária e encorajadora daqueles missionários pioneiros. Somente a partir daqueles fatos, o depois veio a ter maior significado.

5 - Foi um domingo inesquecível, porque naquela noite Deus quis mostrar algumas lições através de um incidente. A sala de culto estava bastante iluminada, e o ambiente introspectivo e reflexivo para o partir do pão, e concentrado e atento para a privilegiada exposição da mensagem ministrada.

Todos estavam no interior da sala, e somente o jovem Êutico estava na janela, dividido entre as alegrias reverentes do local do culto e o sopro da brisa mediterrânio-litoral refrescante e noturna que varria predominantemente nas noites daquela região. Sentado no parapeito da janela e sendo refrescado pela brisa que invadia pelas frestas da janela, foi adormecido pela linearidade da freqüência do som e vencido pelo abraço do sono.

Para Êutico, o calor humano, as ferventes orações, os tocantes hinos de adoração e a pregação viva ministrada pelo missionário pregador visitante, no ambiente da sala não eram fortes o suficiente para lhe causar interesse e prender-lhe a atenção do coração.  

De certa forma, e pelo olhar humano, Êutico tinha o nome de sorte, mas a sua própria sorte já estava sendo comprometida por ele mesmo durante alguns momentos sentado no parapeito de uma janela entre dois cenários. Se não fora a mão do Senhor através das providências responsáveis e imediatas do missionário pregador, os registros das Missões teriam neles assentado um óbito de um jovem cujo nome era “sorte”, mas que não teria tanta sorte como conotava o seu nome.

6 - Aquele foi um domingo inesquecível em Trôade, porque aqueles irmãos viram o jovem morto e depois da ação interveniente do Senhor através de Paulo, passaram a ver testemunhalmente um Êutico ressuscitado. A partir dali, todos passaram a ver o poder do Evangelho do Senhor Jesus exposto na prática.

O incidente ocorrido com Êutico deixa algumas lições úteis a todos nós no presente tempo.

Primeiro, nunca procure estar arredio e separado no ambiente dos cultos ao Senhor, e jamais se ilhe em si mesmo. A família espiritual de adoradores do Deus vivo e verdadeiro não é uma associação puramente contingencial e nem meramente eventual de pessoas transitórias.

Segundo, nunca se exponha a fatores alheios ao foco principal do culto de adoração ao Senhor. Esses fatores podem lhe causar distrações na sua alma, anestesiar-lhe a sua resistência, lhe arrastar e adormecer-lhe o seu estado de atenção e por fim lhe roubar a sua vida tanto no âmbito natural quanto no espiritual.

Terceiro, nunca dispense cada conteúdo da ministração bíblica. Nutra o seu espírito com cada proposição feita e guarde cada citação ministrada por gente competente, segura, equipada e preparada de vida e de conteúdo. Tudo na ministração é essencial e primordial para a vida e é poderosa para nos livrar das dispersões e das distrações. Até mesmo possíveis incoerências, ou ignorâncias, ou tolices, aparentes, servem e revelam coisas que por vezes devemos conhecer ou com elas aprender a evitar praticá-las.   

Por fim, nunca se permita imaginar que o Senhor Jesus desampara aqueles que real e verdadeiramente andam em retidão e estão ao seu efetivo serviço. Cada servo de Deus comprometido de fato nos moldes bíblicos, e conforme a conduta cristã, não se deixa ser embaraçado pelos barulhos da conveniência, nem pelos ditames das contingências momentâneas e transitórias.

Paulo não se fez omisso ao momento. Paulo não se comportou alheio. Paulo não terceirizou as suas responsabilidades para a incursão de ações no fato. Paulo não se emparedou atrás de outros ou de justificativas. Paulo não se engessou e nem se omitiu para com as exigência requeridas diante dos envolvidos nos fatos. Paulo não comandou verbalmente com os olhares subordinantes sobre outros. Paulo não permaneceu calorosamente envolvido na exposição e friamente alheio ao episódio.

Paulo estava em meio a uma celebração da mais alta relevância e na tarefa da exposição. Entretanto, Paulo se antecipou nas iniciativas. Paulo não deixou que viesse a se consolidar um fato triste. Paulo não deixou Êutico caído em mãos de outros. Paulo bem sabia em quem tinha crido e tinha consciência de sua vida a ponto de, imbuído de plena convicção e de sóbria compaixão, poder usar deliberada e confiantemente o nome do Senhor que lhe enviou a Trôade.

Além de tudo isso, o texto nos faz, por fim, ver que nunca devemos nos desesperar e desequilibrar diante de fatos aparentemente desastrosos, todavia busquemos empreender iniciativas de prontas respostas para saná-los. Que nunca nos entreguemos ao subterfúgio da omissão diante de circunstâncias que reclamam a nossa atenção. Que nunca nos permitamos a ficar arredio, ou distraído, ou dividido, para com o ambiente participativo da adoração.

Que definitivamente seja compreendido que ficar na janela não é o mesmo que estar dentro das portas. Portanto, jamais fique na janela! Entre pelas portas e permaneça afinado ao mover e fervor do ambiente da adoração, a fim de que o seu domingo seja proveitoso, producente e inesquecível.  

PbGS

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