sábado, 23 de junho de 2012
E NÃO VOS EMBRIAGUEIS...
E NÃO VOS EMBRIAGUEIS...
Ef 5.18 – “E não vos embriagueis...”
Que o apóstolo Paulo
quis dizer aos crentes efésios com a expressão: “E não vos embriagueis...”? E o
que os detalhes contidos no mesmo texto quer dizer por extensão a todos os
crentes em todos os tempos e em todo o mundo? O texto orientador de Ef 5.18, em continuidade ao seu
contexto anterior e mantendo a mesma linha continuativa argumentativa para o
seu posterior, traz uma viva e forte recomendação intemporal: “E não vos
embriagueis...”. E são exatamente alguns
dos seus detalhes que me proponho trazer.
O apóstolo Paulo
esteve por cerca de três anos na antiga cidade de Éfeso. Foi um período de
intenso trabalho e de grandes esforços. Foi uma temporada de poderosas
mensagens e legítimos ensinamentos tão marcantemente significativos que
conduziram a muitos se converterem ao Senhor e a abandonarem as práticas da
magia e a queimarem publicamente os seus compêndios de mágicas. At 19.19.
Paulo, por certo viu e
percebeu em Éfeso uma cidade profundamente religiosa, permeada de idolatrias,
mas também de desassossegos, de desesperanças e de misticismos. Éfeso foi um grande
centro comercial, político e religioso da Ásia Menor. Tão grande e famosa
quanto também tão insensível era diante da prática da vida de embriaguez entre
os seus cidadãos.
Anos depois, de dentro
dos recônditos de uma prisão em face do seu amor e serviço ao Senhor Jesus, do
cumprimento à sua chamada apostólica, de sua separação ao Evangelho, Paulo
escreve a linda e fervorosa Carta aos Efésios, de cujos 155 versículos do seu
texto, em cerca de sua metade possui a forte semelhança com a sua Carta aos
Colossenses.
Através da sua Carta
aos Efésios, Paulo trouxe a aqueles crentes a abrangente, prática, devocional e
doutrinal essência de revelações que muito servem de encorajamento,
fortalecimento e orientações para todos os demais crentes em Cristo de todas as
épocas e em todos os lugares. Nela, Paulo está disciplinando-os a enxergar os
contrastes da velha vida com a nova vida em Cristo.
Em contraste com o
desejo da embriaguez que reinava, permeava e campeava na antiga Éfeso, Paulo
estava trazendo aqueles crentes ao terreno da sobriedade e da sensatez acerca do engano que reside por trás desse desejo, através do texto de Ef 5.18. Uma
recomendação imperativamente forte, singular e própria, para frear, ou
descontinuar, a prática da embriaguez do vinho e, opostamente a esta, inspirar
os crentes em Cristo à buscarem se encher do Espírito do Senhor.
No texto grego
original ela está assim: “καί μή μεθύσκεσθε” (kai
me methyskesthe). O simples passar de vista sobre esse texto: “E não
vos embriagueis” estaria muito aquém do que a sua expressão e significados querem
dizer. Uma rápida e superficial olhada literal apenas na palavra “vinho” não
possibilita perceber as muitas implicações e aplicações do que o cerne da
expressão realmente quer dizer.
Primeiro, olhando para
a expressão “μή μεθύσκεσθε” (me methyskesthe), comecemos pelo termo
“μή”
(me).
Ele indica a proibição imperativa a um ato continuado, a proibição a um curso
de conduta. Ele significa imperativamente: “desista”, “deixe”, “não faça”,
“resista”, “não continue a fazer”.
Depois, em segundo,
concentremos nossa atenção na palavra grega “μεθύσκεσθε” (methyskesthe),
do verbo grego “μεθύσκομαι” (methyskome), e relativo a “μεθύσκο”
(methýskõ).
Esta palavra é tão mais abrangente do que a simples tradução registra. Quando apenas
a olhamos na sua forma literal (ao pé da letra), deixamos de alcançar a sua
aplicação original como era empregada no seu contexto histórico-cultural.
A expressão original “μεθύσκομαι”
(methyskome)
vai muito mais além, visto que ela por si somente era aplicada para dizer de todo tipo de
embriaguez, de todo tipo de intoxicação mental produzida por qualquer meio ou
fonte. Esta é uma expressão que não se refere, ou se prende, apenas e
diretamente a consumo exagerado de vinho. Por si, ela se refere à embriaguez, à inebriação,
propriamente dita. A embriaguez é um efeito da intoxicação.
A expressão variante “μεθύσκο”
(methýskõ),
independente do agente causador, implica em vias para o surgimento de excessos,
corrupção, devassidão, libertinagem, desenfreamento, perda de equilíbrio, de
auto-controle e do bom senso. Implica em provocações de confusão, de desafinamento
e de contendas.
Os melhores
dicionários definem a embriaguez como “um
estado de excitação e descoordenação acompanhado de obscurecimento da
consciência”. Um efeito causado por algum fator gerador da intoxicação.
Estar embriagado é a mesma coisa que estar com a mente intoxicada, independente
de qual seja o agente causador da embriaguez.
Toda intoxicação é
proibida nas Escrituras Sagradas. Assim também num antigo escrito judeu comum,
o “The Testament of Judah”, (chapter fourteen), está escrito que “a embriaguez
impede a mente de perceber a verdade. A embriaguez se faz um elemento
inspirador da luxúria. A embriaguez lidera a visão ao erro”.
Entre os cidadãos
efésios, a embriaguez era uma idéia dionisíaca cuja finalidade era através dela
pressupostamente buscar a comunhão mística com o mundo espiritual e a tentativa
de estabelecer relacionamento desinibido para orgias. A embriaguez também era um
ato de honrar ao deus Baco (deus do vinho, da ebriedade, dos excessos) e adorar
o deus Dionísio.
Em Éfeso, os adeptos
da embriaguez do vinho acreditavam que era através da alegria produzida por ela
que conseguiriam desinibidamente penetrar na plenitude espiritual e assim
achavam que alcançariam experiências místicas e visionárias. Seguiam suas vidas
como ébrios dependentes da embriaguez e aprisionados pela força das tentações
convidativas dos “bacanais” (uma mistura de culto e orgias regados pelo consumo
de vinho).
Identificando diferenças, tanto a alegria
produzida pela embriaguez do vinho, como a exultação em plenitude no
Espírito são evidenciadas. A alegria da embriaguez do vinho é apenas uma euforia temporária e
revela a falta de bom senso, conduz à intemperança, leva à dissolução, arrasta
para contendas, e leva à ruína. Entretanto, a exultação em plenitude no
Espírito leva à verdadeira e legítima alegria, inspira à expressão de gratidão
e louvor, produz edificação, impede a grosseria, a arrogância, o gigantismo da opinião egoísta.
O foco do significado
e aplicação da expressão de Ef 5.18, “E não vos embriagueis...”, ao nosso
contexto, nos aguça a perceber as multiformes fontes de embriaguez e os seus
tipos ocorrentes em nossos dias. Apesar de gramaticalmente o verbo no texto
estar no modo imperativo, na voz passiva e no tempo presente, a aplicação da
palavra “μεθύσκομαι” (methyskome) é intemporal e
onidirecional.
Vivemos num tempo onde
muitos crentes em Cristo estão seguindo o continuado curso de algum tipo de embriaguez
produzida por diversificadas fontes incentivadoras que lhes arrastam a
despertar falsas imitações, a perniciosos motivos e a propósitos estranhos à
visão do Evangelho de Cristo e na contra-mão da vida de sobriedade no Reino de
Deus.
Há correntemente
vários tipos de embriaguez causada pela intoxicação mental. A intoxicação
surgida da fama, a provocada pelo nome, a nutrida pela posição, a produzida
pelo status, a alimentada por privilégios e honrarias humanos, a despertada pelas
concorrências e obtenções. Enfim, existe muita gente embriagada, de mente
intoxicada, no meio evangélico de nosso tempo.
Pessoas visivelmente
embriagadas, mentalmente intoxicadas, cujos efeitos e sintomas são notados muito
mais além do que a fala expressa e do que as suas obras podem declarar. Pessoas
notoriamente embriagadas pela intoxicação mental da soberba, da arrogância, da
ganância, da avareza, do orgulho, do falso zelo oportunista, da libertinagem
permissiva e desenfreada. Pessoas embriagadas pela intoxicação mental provocada
pelo falso e ilusório senso de conservadorismos pretextos e desafinados diante
dos ensinamentos das Escrituras e do crescente desafio dos tempos e das épocas.
Pessoas visivelmente
embriagadas e mentalmente intoxicadas pela discriminação notada dentro do mesmo
credo denominacional e confessante de mesma fé. Pessoas visivelmente
embriagadas pela intoxicação mental dos medos, das desconfianças
injustificadas, ilusórias e pressupostas, da ausência, ou pobreza, de
inteligência, tato e tinos. Pessoas intoxicadas pelos anseios, pela
religiosidade, pelas ameaças contextuais e pelos cuidados mesquinhos.
Pessoas visivelmente
embriagadas e mentalmente intoxicadas por vontades artificiais, pela
momentaneidade ilusória e passageira, por desejos medíocres, repudiáveis,
desconexos e ofensivos à doutrina cristã. Geralmente o ébrio não percebe os
seus sensos completos e não nota a sua embriaguez. Os fariseus estavam tão
embriagados com a tradição e intoxicados mentalmente pela força do cumprimento
das Escrituras ao pé da letra que tendo-as em suas mãos não conseguiram
enxergar com o coração e com sensibilidade espiritual a presença do seu
esperado Messias em seu meio e a seu tempo.
A embriaguez ofende as
consciências fracas e destrói o testemunho cristão. O ébrio não percebe que seu
estado insensato e sua condição desequilibrada ofendem consciências ao seu
redor. Sobre os lastros da palavra “μεθύσκομαι” (methyskome), a
embriaguez, independente de sua forma e fonte, causa a “άσωτία” (asotía)
ruínas, contendas, dissoluções. Promove descréditos, leva a destemperos e a
vergonhas. Uma mente cristã intoxicada por qualquer coisa é levada a qualquer
tipo de embriaguez e à insensibilidade capazes de fazer o crente embriagado não
notar conscientemente que sua intemperança está sendo um veículo promotor de
escândalos, de repulsas, de ofensas e de impedimentos para que outras vidas não
se aproximem do Senhor Jesus e também nutram aversão contra os filhos do Reino de Deus.
Percebendo a força do
significado e da aplicação da expressão grega do texto original traduzida para
“não vos embriagueis...”, notamos a passagem bíblica em foco nos dizer
contextualmente em alto e bom som: “Não se embriaguem com coisa alguma!”; “não
continuem na embriaguez de coisa alguma!”, “deixem de se embriagar com coisas!”,
“resistam a qualquer embriaguez!”, “desistam, não insistam na embriaguez por
coisa alguma!”.
Toda embriaguez revela
a inabilidade para exercer o senso de equilíbrio, de auto-controle, de domínio
interior, sobre as coisas que nos envolvem ou circundam em nosso contexto. As
alegrias e euforias da embriaguez e seus resultados visíveis não se comparam
aos frutos dos júbilos e exultação produzidos pela plenitude (“πληρουσθε”)
(plerusthe)
no Espírito. A intensa alegria do coração e da mente deve ser legítima,
coerente, conveniente e capaz de produzir edificação em outros e de glorificar
ao Senhor nosso Deus.
PbGS
Termos e expressões
pesquisados de:
W.G.BLAIKIE
– “Ephesians”, Pulpit Commentary”.
C.R.ERDMAN
– “The Epistle of Paul to the Ephesians”.
C.VAUGHAN
– “Ephesians”.
W.HENDRIKSEN
– “Ephesians”.
Fritz
RIENECKER and Cleon ROGERS – “Linguistic Key to the Greek New Testament”.
Barbara
and Timothy FRIBERG – “Analytical Greek New Testament”.
A.T.LINCOLN
– “Ephesians: Word Biblical Commentary”.
ZONDERVAN
– “The Lexicon of the Greek New Testament”.
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Olá, Pastor. Também concordo que a embriaguez a qual Paulo fala a Igreja de Éfeso vai além do vinho. Hoje, muitos cristãos acabam bebendo de fontes egocêntricas. E ficam embriagados pelo orgulho, arrogância. Muito bom o texto. Parabéns.
ResponderExcluirPrezada irmã em Cristo, Mikaella:
ResponderExcluirExpresso-lhe o meu sincero agradecimento pela sua boa presença aqui. E a propósito do seu comentário fortalecedor, tomo esta distinta oportunidade para externar que o Senhor nosso Deus seja louvado e exaltado na sua preciosa vida sempre.
Seja bem-vinda sempre! Sinta-se livre a somar valores aqui.
Graça e paz do Senhor Jesus seja consigo.
Fraternalmente,
Em Cristo,
PbGS - Pb. Glauko Santos